domingo, 3 de agosto de 2008

A Fidelidade (III)

“Tu odiar-me-ás e eu nada poderei fazer, senão sofrer o teu ódio em silêncio, sofrê-lo na carne, como açoites,
Dilacerando o meu corpo que foi teu tantas vezes, como nunca foi de mais ninguém. Assim vou vivendo sem ti e sem procurar saber de ti. Mas sei de mim, sei do imenso vazio da tua falta, que nada preenche nem faz esquecer. Sei das horas que continuo a atrasar-me no hospital para não chegar cedo a casa. Sei dos desvios que faço para não te encontrar e não deixar que destruas um pouco mais o que já se escaqueirou, Como uma estátua quebrada no chão, esperando no seu silêncio de mármore que os anos venham roer pedaços do que outrora era uno e parecia inquebrável. /…/E que interessa, afinal, saber se eu sou feliz, assim? Porque me perguntas sempre isso, quando me encontras? Porque te satisfaz tão fraca desforra, como se a tua sobrevivência já só se pudesse alimentar da minha impossibilidade de ser feliz?E porque não és tu feliz, então? Tu que tens tudo para isso e que és livre, nada te prende e nada deves a ninguém senão a ti próprio? Porque permaneces amarrado a mim como o último marinheiro de um navio velho que nunca mais navegará e que, em lugar de embarcar noutro barco e com outro destino, permanece grudado na ponte do comando inútil, envelhecido com o seu barco, ressequido e amargo?” MST

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