quinta-feira, 12 de junho de 2008

A fidelidade (II parte)

E que sabes tu do meu sono? Que imaginas tu das minhas noites? Saberás tu que as mas felizes são aquelas que chego à cama e adormeço, sem sequer me lembrar de ti nem querer, como na música da Simone: “eu não me lembro, nem esqueço – adormeço”.
Tu não entendes, mas eu preciso da tua força para sobreviver. Preciso de ver o teu sorriso espantado e terno, como se tudo fosse novo e claro, o teu riso inesperado e selvagem, que contagia todos à roda. Preciso de ver as tuas mãos seguras e firmes, arrancando à morte e à dor um corpo adormecido numa sala de operações onde todos respiram e estão suspensos aos teus gestos. /…/
Sei que se me pudesses ouvir me chamarias egoísta e dirias que, como sempre, é só a minha vontade que conta. Estou sempre a falar contigo, mas tu não me ouves. Eu, porém, oiço-te sem que tu fales e quando falas, adivinho o contrário do que dizes. Vejo-te à deriva e perdido e não te posso ajudar, porque tenho de me ajudar a mim. Tu não entendes, eu sei. Vives um conflito entre a tua força vital – que eu não roubei, nem poderia – e a tua vontade de te deixares afundar, de te fechares no escuro da tua casa e maldizeres-me, interminavelmente. Tu e não eu, se encarregará da tarefa de destruir tudo o que vivemos, de acordo com a lei do excesso que é a única que compreendes: tudo ou nada, verdade ou mentira, amor ou ódio. MST

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