terça-feira, 10 de junho de 2008

A fidelidade (I parte)

“Não, tu não me ouves. Tu estás surdo e roído pela raiva. Mas talvez seja melhor assim. Talvez seja melhor que tu não me oiças, que não consigas ler os meus pensamentos. Tu não consegues ver a distância que eu ponho entre nós é uma distância imposta a mim, antes de mais nada. Uma distância entre a minha vontade e a minha consciência. /…/

Tu não me ouves quando estou sentada em casa e aparentemente tudo está tranquilo, num regresso à normalidade que eu busquei e, contudo, chamo por ti até que o teu nome me magoe no peito. /…/

Não, tu só vês o que eu mostro e não consegues ver para além do que vês. Vês-me fugir ao teu olhar, ao teu encontro, á tua presença. Vês-me longe e alheia, como se tu não fosses para mim mais do que uma história infeliz e inacabada. Mas não me vês olhar-te disfarçadamente, quando sei que não o esperas.

Não vês o terror com que espio as outras mulheres aproximarem-se de ti. Não dormes comigo à noite quando eu me volto e torno a voltar na cama, buscando um sono que te apague de mim, que afaste as perguntas que então me devoram:


“Onde estará ele agora?
Estará sozinho em casa, sofrendo por minha causa?
Estará acompanhado, dando a outra mulher o que eu já não tenho dele?
Como fará ele amor com outra mulher?
Como o pode?
Como farás amor, meu amor? /…/ M.S.T.

Sem comentários: