domingo, 19 de outubro de 2008

Interrogação

Não sei se isto é amor. Procuro teu olhar,

Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;

E apesar disso, crê! nunca pensei num lar

Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.

E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.

Nem depois de acordar te procurei no leito

Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo

A tua cor sadia, o teu sorriso terno...

Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso

Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio

Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.

Eu não demoro a olhar na curva do teu seio

Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...

Eu não sei que mudança a minha alma pressente....

Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,

Que adoecia talvez de te saber doente.

(Clepsidra e outros poemas, Lisboa, Edições Ática, 1973.)

1 comentário:

M5Sol disse...

Este poema é lindo. Encheu-me a Alma.
Obrigada pela partilha.